Como vamos povoar marte se não houver a mulher?

Mas muito dessa visão de inferioridade feminina herdamos da religiosidade, que ao contrário de outras tradições, sempre privilegiou o homem.

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SOLANO FERREIRA

Numa sociedade patriarcal e machista que herdamos de nossos antepassados, reconhecer a alteridade na mulher é um desafio que se faz presente ainda nos dias hoje.  Mesmo afirmando o contrário, a sociedade ainda se nega ao pleno reconhecimento da mulher como um sujeito independente, pensante, com habilidades, criatividades e sentimentos próprias.

Ter a mulher como mero assessório masculino, sempre foi erroneamente difundido em todas as sociedades que se conhece, desde as regiões nórdicas até a mais isolada tribo indígena. Como esses povos tão díspares em tudo — a começar pela distância geográfica e pela cultura — chegaram a essa conclusão ainda é um mistério.

Mas muito dessa visão de inferioridade feminina herdamos da religiosidade, que ao contrário de outras tradições, sempre privilegiou o homem. Na Idade Média, por exemplo, a mulher era proibida até de participar dos corais de igrejas. As partes mais agudas dos cânticos que poderiam ser cantadas por uma mulher eram dadas às crianças.

Já na Grécia Clássica, Aristóteles vai ser o responsável de pintar a imagem de sexo frágil que temos da mulher. O discípulo de Platão chega a essa conclusão ao observar os animais na natureza, onde a predomínio do macho é mais evidente. Para ele, se entre os animais era assim, entre os humanos o seria também.

E não fica somente nesses exemplos que contribuíram para a predominância masculina. Milênios e milênios depois ainda nos encontramos debatendo sobre a mulher na sociedade, uma discussão que poderia ser superada, mas necessária diante da visão de muitos machistas que se acham no direito de ter poder de vida e morte sobre elas; diante da negativa do mercado de pagar o mesmo salário a uma mulher, que pagaria a um homem na mesma função; diante de tantas injustiças que ainda passa muita mulher na sua luta pela sobrevivência e pelo direito de ser mulher.

Por tudo isso, o dia 8 de março não pode ser apenas uma data comemorativa. Se assim for, não estaremos dando a importância devida a uma luta vital para a humanidade. Sem a mulher, não há sobrevivência de espécie, estamos fadados a extinção. Sem a mulher, como pretendem povoar Marte? É preciso compreender a mulher em todas as suas possibilidades de gênero e sua importância para a vida humana em qualquer situação ou condição.

O autor é jornalista

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