O discurso do presidente e a reação que o governo não esperava

O presidente Bolsonaro foi para o tudo ou nada e incendiou ainda mais a fogueira dos embates políticos. Se tivesse optado pelo discurso moderado, teria mais fôlego para manter a governabilidade.

36

SOLANO FERREIRA

As manifestações do Dia 7 de Setembro continuam repercutindo não necessariamente pela presença das pessoas nas ruas, que foi bem menor do que o esperado, mas pelo discurso do presidente da República Jair Bolsonaro, na avenida Paulista. Foi o segundo pronunciamento do dia que causou reações, após Bolsonaro dizer que apenas Deus pode torná-lo inelegível. “Quero dizer aqueles que querem me tornar inelegível em Brasília: ‘só Deus me tira de lá’. “Aviso aos canalhas: não serei preso.” O presidente também falou em descumprimento às decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).

A reação foi imediata e até os partidos e lideranças aliadas se manifestaram em favor da democracia e sustentando que tudo será feito pela garantia do Estado Democrático. A Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS) anunciou que fará uma audiência pública para discutir, “a ameaça à democracia e aos direitos sociais”. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que o Parlamento vai ser uma ponte de pacificação entre os Poderes Executivo e Judiciário. A bolsa de valores fechou em baixa e o dólar subiu.

Até o mais novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Kássio Nunes Marques, indicado por Bolsonaro, se reuniu com os colegas da Corte e prestou solidariedade ao ministro Alexandre de Moraes, que foi alvo de ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas manifestações de ontem. Outra reação que ferveu o Congresso Nacional na tarde de ontem (08), foi quanto as intenções de abertura de processo de impeachiment. O tema ganhou força e até os partidos aliados colocaram o assunto em discussão. Opositores ao governo organizam para o próximo domingo dia 12, manifestações em todo o País para reforçar o pedido de impeachiment.

Certamente será um restante de semana com muitas tensões e os rumos da Nação serão desencadeados no transcorrer das repercussões. O presidente Bolsonaro foi para o tudo ou nada e incendiou ainda mais a fogueira dos embates políticos. Se tivesse optado pelo discurso moderado, teria mais fôlego para manter a governabilidade. Já que não tem como voltar atrás, a equipe de governo terá muito trabalho e noites não dormidas para reestabelecer a governabilidade. 

O AUTOR É JORNALISTA E EDITOR-CHEFE DO DIÁRIO DA AMAZÔNIA

Deixe seu comentário