Larina Rosa
“Nosso país ainda não permite que as mulheres vivam suas vidas de forma livre, em movimento”
Depois das promessas feitas no Ano Novo e do clima agradável de recomeço, a rotina de janeiro retorna e nos acerta com os mesmos problemas do ano anterior, o feminicídio. O brutal assassinato da artista cicloativista venezuelana Julieta Hernández, no Amazonas, retrata a doença social que assola o país e torna o nossa nação o quinto país que mais mata mulheres no mundo.
Quanto vale uma vida? De acordo com a Constituição brasileira ela é inviolável, intangível e sagrada. É o nosso bem mais precioso. Acontece que a vida de Julieta Hernandez que tentava viajar o mundo em duas rodas levando arte e alegria para as pessoas carentes foi roubada por um celular e por ações machistas.
Na antevéspera de Natal, dia (23), a ciclista que já havia percorrido os estados do norte e nordeste e estava a caminho do seu país de origem desapareceu em Presidente Figueiredo (AM). Julieta que fazia parte do grupo de artistas e cicloviajantes deixou de dar notícia para os amigos para sempre. O corpo da mulher que deixava sorrisos por onde passava como palhaça, foi encontrado em estado de decomposição. A suspeita é que Julieta Hernandez tenha sido morta, depois de ser estuprada, queimada e enterrada viva.
A mulher que pedalou por 8 anos em diversos estados do país, levou acalento através de apresentações artísticas para pessoas onde as políticas do estado não chegam, perdeu a vida com requintes de crueldade da pior forma possível.
Julieta é mais uma vítima do Brasil feminicida, da cultura misógina que não permite que a mulher seja livre, que possa viajar, trabalhar, rir e ser dona da própria vida. Por aqui ainda não é permitido sonhar e realizar sem correr perigo.
Ela que não precisava de muito para viver, tinha consciência de que somos feitos de afetos e encontros, colecionava histórias e estórias, cantava encantava por onde passava e não era presa às obrigações de uma vida sem sentido, não está mais aqui. E nem vai conseguir voltar para sua mãe como queria.
A cada vida perdida perdemos um pouco da capacidade de sonhar com um futuro melhor. Para esse ano desejo mais empenho das autoridades para combater a violência contra as mulheres, só assim poderemos realizar nossos sonhos e viver um pouco mais seguras, em paz, nesse país que aparenta estar doente mas que ainda com esforço pode sarar.
A autora é jornalista