Ponte do Rio Candeias apresenta risco significativo de colapso, aponta relatório do Crea-RO

O plano de intervenção prevê, inicialmente, a instalação de cabos de proteção externos para estabilizar a estrutura e garantir a fluidez do tráfego com segurança

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A ponte sobre o rio Candeias foi interditada no dia 7 de janeiro pelo DNIT. Foto: Divulgação

Uma equipe técnica do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Rondônia (Crea-RO) identificou sérios problemas estruturais na ponte do Rio Candeias em Candeias do Jamari. A vistoria, realizada no último dia 13, foi solicitada pelo Ministério Público Federal através do Procurador da República Raphael Luiz Pereira Bevilaqua, após notícias sobre rachaduras e outras inconformidades estruturais na ponte de concreto.

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A ponte, inaugurada em maio de 2009, está com apenas 16 anos de utilização, tempo considerado muito curto quando comparado com a vida útil de projeto de uma estrutura, que deveria ser superior a 50 anos, conforme a norma 15575-1 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Durante a inspeção visual, os engenheiros do Crea-RO constataram deformações excedendo os limites previstos em normas técnicas e diversas fissuras distribuídas ao longo da estrutura. As deformações mais alarmantes foram identificadas no vão central da ponte, onde as juntas de dilatação das barreiras rígidas já não possuem o espaço adequado devido às deformações verticais da superestrutura.

É importante destacar que os problemas verificados não são recentes. Um relatório de 2010, elaborado pela LSE – Laboratório de Sistemas Estruturais Ltda para o DNIT, já havia evidenciado desvios exagerados no greide da ponte, com valores de 9,3 cm, 18,9 cm e 3,1 cm nos vãos correspondentes ao lado Porto Velho, vão central e lado Cuiabá, respectivamente.

Essas variações no greide são significativas na altura e nivelamento da estrutura em relação ao que foi originalmente projetado ou ao que seria considerado normal ou aceitável. Esses desvios nos diferentes vãos representam deformações verticais na estrutura que podem comprometer sua integridade e funcionamento.
As causas mais prováveis para as anomalias incluem sobrecarga não prevista ou tráfego acima da capacidade de projeto, recalques diferenciais nos apoios ou fundações alterando a geometria da estrutura, e ausência ou deficiência de manutenção preventiva ao longo dos anos.

Em visita à sede do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) em Porto Velho, realizada no dia seguinte à vistoria, a equipe técnica foi informada pelo Engenheiro Civil Francisco Kleber Pimenta Aguiar que uma empresa especializada já foi contratada para execução de reforço estrutural emergencial. As peças necessárias estão sendo transportadas de São Paulo para Porto Velho, embora não tenha sido informada a data exata para início dos trabalhos.

O plano de intervenção prevê, inicialmente, a instalação de cabos de proteção externos para estabilizar a estrutura e garantir a fluidez do tráfego com segurança. Esta técnica utiliza elementos de aço de alta resistência que são tensionados para comprimir o concreto, contrabalançando os esforços de tração e aumentando significativamente a capacidade de suporte de cargas da estrutura. Após essa etapa provisória, está prevista uma reforma geral da ponte.

Relatório

O diagnóstico emitido pelo Crea-RO é alarmante. Segundo o relatório técnico, existe um risco significativo de colapso devido à continuidade da utilização da ponte e à presença de deformações excessivas e patologias progressivas observadas em sua estrutura. As tensões excessivas podem comprometer a integridade da ponte a curto prazo.

Entre as recomendações emitidas pelos engenheiros, destacam-se a manutenção do sistema de pare e siga com tráfego alternado, concentrando a passagem de veículos na região central do eixo longitudinal da ponte; a alternância do tráfego de veículos pesados e leves, evitando a passagem simultânea de veículos de grande porte; além de análise estrutural mais detalhada e medidas de recuperação urgentes.

O relatório conclui que, de acordo com o método GUT (Gravidade, Urgência e Tendência), a situação da estrutura é “GRAVÍSSIMA”, com “URGÊNCIA imediata” de intervenção do DNIT, havendo “TENDÊNCIA de colapso da estrutura” caso continue o grande fluxo de veículos pesados que trafega diariamente sobre a ponte.

A equipe responsável pela fiscalização foi composta pelos engenheiros Hélvio Pantoja (especialista em Estruturas), Siguimar Francisco da Cruz (Fiscal e Coordenador Geral do CREA-RO) e Oziany Gomes de Souza (Fiscal e Gerente Técnica do CREA-RO).
O CREA-RO também enviou ao DNIT, ainda no dia 13 de maio, o Ofício nº 344/2025/PRES/CREA-RO solicitando diversos documentos técnicos sobre a ponte, incluindo relatórios de monitoramento, laudos de inspeção e informações sobre os reparos planejados, mas até a conclusão do relatório não havia recebido resposta.
O caso sublinha a importância da manutenção preventiva e do monitoramento contínuo de obras públicas de infraestrutura, especialmente aquelas sujeitas a intenso tráfego de veículos.

Texto: Joel Elias

Fonte: Valor&MercadoRO

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