Os dilemas (nada Confucianos) de Confúcio Moura

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Elizeu Lira

O ambiente político no estado de Rondônia vive a sua tradicional expectativa anterior às eleições, já um clássico destes momentos, anos após anos, quando estas envolvem, ou podem envolver Confúcio Moura. Veterano de campanhas eleitorais vitoriosas, Confúcio Moura, é useiro e vezeiro em dar um nó nas cabeças dos seus concorrentes com o sua renitente indefinição pré-eleitoral. Isso atinge também os seus companheiros de partido, seus correligionários, amigos mais íntimos e, desculpem a intimidade, a sua doce esposa Alice (parafraseando o saudoso Ricardo Boechat e a sua doce Veruska). Imagino a curiosidade que assolam estes grupos de pessoas para saber se Confúcio Moura será ou não candidato no próximo pleito.

Se esta é uma agonia a que se obrigam os aliados, imaginem como esta “estratégia” é tratada pelos adversários, pelos concorrentes. Para quem gosta de pensar a política como um jogo vivo, dinâmico e criativo, Confúcio Moura instiga a imaginação, a formulação e, por que não, a adivinhação. Como é muito vitorioso, a cada eleição, o senador agrega em torno do seu nome qualidades e virtudes que lhes permitem jogar o jogo a seu modo, no seu ritmo, na sua “toada”, como se diz no interior do Brasil. Esta é uma prerrogativa da qual ele não abre mão, parece. E dane-se o sofrimento dos seus aliados!

No entanto, o propósito deste artigo não é tecer impressões e amenidades sobre o modus operandis de Confúcio Moura. Como sugere o título, existem dilemas bem objetivos a serem equacionados pelo sábio político antes de anunciar se é candidato a governador ou não – embora o seu modo de operar beire à abstração. E, à guisa de reproduzir o modelo adotado pelo senador, me permito “desobjetivar” a minha análise com a pretensão de manter o debate em elevadíssimo nível. Que os analistas, os estudiosos, os cientistas e os curiosos busquem as respostas (é Confúcio fazendo escola).

O primeiro dilema tem a ver com a superação do limite financeiro à sua campanha. Experiente, receoso de manchar sua “griffe Política”, conhecido como cumpridor de acordos e honrador de suas dívidas, Moura não entraria numa peleja se este quesito não tivesse equacionado. E as verbas do Fundo Eleitoral do partido, tem clareza disso, não terão Rondônia como prioridade. Do mesmo modo, como é bem do seu perfil, não aceitaria solução que lhe manietassem os braços ou lhe reduzissem os espaços.

Outro dilema gira em torno de grupo político. Para ele (suposição minha), ganhará as eleições de 2022 o candidato que agregar em torno de si o maior e mais qualificado grupo de lideranças, de todos os segmentos. Não é eleição “de candidato”, e sim de grupo. A federalização de partidos reforça e empurra nessa direção. Grupo pressupõe rodízio, sucessão, trocas. Aqui, ele desconfia de que o veem como ‘imorrivel’ e incansável e que a sua aposentadoria é uma quimera.

O outro dilema que lhe queima o cérebro é: o que ele pode fazer de maior, novo, necessário e no tempo de um mandato para a população, caso ganhe as eleições. Crítico ferrenho da burocracia estatal, Confúcio Moura é um realizador obsessivo e tem clareza que o estado de Rondônia possui necessidades que não poderão ser atendidas num mandato apenas. Aos limites impostos pela burocracia, na sua avaliação, se junta a complexa engenharia política que precisa construir para lhe dar a sustentação na Assembléia. E se pergunta: qual será o formato do parlamento rondoniense que sairá das eleições proporcionais?

Mais elaborado ainda é o dilema que carrega consigo (acho) há alguns anos: tem espaço e condições para uma mulher governar o estado de Rondônia logo após o término do seu mandato, caso se eleja em 2022? Há quadros femininos interessados no desafio? O ambiente político é suscetível à este debate? Com a certeza de que o tema suscita dúvidas, receia fazer uma campanha em que a cultura do “masculinismo”  continue a predominar na política do estado.

Por fim, o dilema mais objetivo e mais contundente é: mesmo que todas as questões anteriores fossem equacionadas, o que ganharia pessoalmente se decidisse sair candidato? E aqui, ele repeliria isso com veemência, não se trata de ganhos financeiros ou políticos, pois os dois ele já tem o necessário. A sua carreira política é vitoriosa, consagrada e ele está no cargo mais cobiçado e qualificado da República. Ser senador, apesar de tudo, é estar no Olimpo da política. Voltar a ser governador lhe traria satisfação pessoal, que compensassem os desgastes, também pessoal, que o cargo implica? As realizações seriam em quantidade e qualidade suficientes para trazer alegrias às pessoas, de modo que o seu coração se alegrasse? A sua doce Alice suportaria a agenda insana de governador mais um tempo, caso se elegesse?

Como se vê, os dilemas são duros também para Confúcio. E cada um deles, embora interligados, necessitam de tratamentos separados, isolados um do outro, específicos. Uns exigem coração, outros razão e, alguns, a combinação dos dois.  Saber processá-los desta forma, com este cuidado, é que faz o vitorioso, o vencedor. Mesmo que isso seja decidido e anunciado no último minuto do jogo.

O autor é sociólogo, especialista em politicas públicas

 

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