O que a briga da barata com a formiga tem a ver com a gente?

Estamos chegando a casa dos 300 mil brasileiros mortos pela Covid-19 e o governo continua a se negando a reconhecer a gravidade

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SOLANO FERREIRA

Diz um ditado popular que certa vez a barata brigou com a formiga, nascendo daí uma rixa entre as duas. Nas eleições da bicharada a formiga se candidatou e foi disputar o pleito com o inseticida. Para se vingar da desafeta, a barata revoltada votou no inseticida. Resumo da ópera: todos os insetos morreram, até o pobre do grilo que se absteve de votar. Qualquer semelhança desse o enredo com o Brasil atual não é mera coincidência, não! Há uma ligação estreita entre o imaginário popular dessa historinha com o que vivemos hoje no país.

As semelhanças são muitas, a começar pela saída encontrada pela barata para tirar de tempo a formiga. Ela não pensou duas vezes e escolheu pelo primeiro que apareceu desconstruíndo a formiga. O resultado de sua escolha acabou sendo desastroso para os insetos, até para o grilo que não tinha nada a ver com uma briga particular.

Aqui, querendo acabar com um mal, o brasileiro optou por outro mal pior do que o que estava querendo eliminar. Este camuflado em retóricas moralistas, em uma suposta  religiosidade e honestidade que acabou convencendo a maioria dos brasileiros.

Resultado: hoje o nosso país é um pária internacional, denunciado até na ONU e na Corte de Haia por crimes contra a humanidade, de incentivo ao genocídio dos povos tradicionais da floresta, notadamente os indígenas.

A situação piora se o foco for a atuação do governo no combate à pandemia do novo coronavírus. Aí o desastre é imenso. Estamos morrendo  por causa de uma política negacionista do governo que deixa os brasileiros a mercê de uma doença assassina e ainda faz ameaças aos governadores que querem proteger sua população.

Estamos chegando a casa dos 300 mil brasileiros mortos pela Covid-19 e o governo continua a se negando a reconhecer a gravidade que vivemos por causa da pandemia. As ações adotadas até agora, saíram todas à base de pressão, como é  o caso do auxílio emergencial. Na contramão do planeta, aqui a prioridade são ações que contribuem para aumentar as mortes — como é  o caso do projeto que flexibiliza a compra e o porte de armas de fogo —, do que medidas que podem salvar vidas. E quem está no papel do grilo, também é afetado por isso.

O autor é jornalista

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