Embaraços levam eleitor a preferir o passado

É certo que em aproximadamente 40 décadas de democracia, o País passou por importantes avanços, porém, o povo brasileiro não amadureceu o suficiente para a liberdade de escolhas.

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SOLANO FERREIRA

É nítido que o Brasil vem enfrentando embaraços diante do crescimento da inflação, disparada do dólar, e desastrosa condução da pandemia do novo coronavirus. Especialistas estimam menor crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para neste ano em que a pandemia pode fechar o ciclo com 600 mil mortes, conforme previsões técnicas. Todos os acontecimentos que surgem paralelos a esses fatos, causam no povo brasileiro o sentimento de perturbação social e de desconfiança generalizada. Isso deve afetar na decisão dos votos nas próximas eleições, quando o eleitor questionar em poderá assumir o poder nos diversos cargos. 

É certo que em aproximadamente 40 décadas de democracia, o País passou por importantes avanços, porém, o povo brasileiro não amadureceu o suficiente para a liberdade de escolhas. A cada processo eleitoral percebe-se tendências de continuidades e descontinuidades. Até aí seria visto como processo normal na democracia, mas o momento vivido no País está levando o povo à profunda desconfiança. O reflexo poderá conduzir para a eleição de políticos tradicionais e conhecidos. 

Um exemplo claro é a ascensão do Lula por todo o país. Isso mostra que sem opções, o jeito é o cidadão comparar entre o que tem disponível para definir o voto. Apesar dos diversos ensaios de terceira via, até o momento, nenhum nome novo empolgou o eleitorado. Tudo indica que o eleitor não pretende arriscar em desconhecidos. Parece que a fase do novo e novidade vai sendo superada pelo voto naquele experimentado. É o tipo: esse eu já conheço. Ou pior não fica.

Desse momento perturbador na consciência do voto, a culpa pode ser atribuída aos partidos políticos. Essas 32 das 33 agremiações partidárias existentes receberam no ano passado R$ 2,034 bilhões do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), também conhecido como Fundo Eleitoral, principal fonte de recurso para manutenção dos partidos políticos. Apesar da volumosa quantia, os investimentos são invisíveis em formação política, levantamento de novas lideranças e de ações de captação de ideias e propostas de interesses coletivos. Sem opções, os eleitores ficam sufocados nas baixas performances de clãs e sujeitado aos domínios megalômanos. Nas últimas eleições, os eleitores queriam mudanças e foram frustrados. Nas próximas eleições podem recorrer ao conhecido, que apesar de ruim, já é conhecido. 

O AUTOR É JORNALISTA

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