Por Valcenir Silva
Vivemos uma era de narrativas inflamadas. Palavras como “direita”, “esquerda”, “conservador”, “progressista” são lançadas diariamente nos palanques, nos púlpitos e nas redes sociais — muitas vezes, sem a devida profundidade e responsabilidade ética que deveriam carregar.
No campo da direita brasileira, há uma bandeira que se tornou símbolo de identidade: “Deus, Pátria, Família e Liberdade.” Confesso: são palavras fortes. Nobres. Carregadas de valor moral e espiritual. Mas há um perigo quando elas se tornam slogan de campanha e promoção pessoal e não valores de vida.
Ser de direita é ser conservador. Mas ser conservador é ser decente. E aqui começamos a diferenciar o joio do trigo.
Amar a Deus, exercer o patriotismo, defender a família e valorizar a liberdade são princípios básicos de qualquer ser humano decente. Eles não pertencem a uma ideologia, pertencem à consciência moral — ou deveriam pertencer.
O verdadeiro conservadorismo cristão não se resume a gritar palavras de ordem. Ele se manifesta na prática do respeito, na defesa da verdade, na busca pela justiça, e sobretudo, na coerência entre discurso e vida.
O conservador ama o próximo. Respeita o diferente. Rejeita a corrupção. Zela por seu testemunho. É honesto — mesmo quando ninguém está olhando.
Não adianta um político “de direita” subir num palanque ou pegar um microfone, rede social e bradar: “Deus, pátria, família e liberdade” se, quando chega ao mandato, poder, legisla e governa para si mesmo.
Se enriquece ilicitamente, e usa o cargo para se promover. Se manipula estruturas e se alia ao que há de mais podre na política por conveniência. E nos bastidores ainda afirma: “o discurso era para ganhar a eleição …” Esse comportamento não é conservadorismo. É oportunismo. É hipocrisia.
E o que é pior: mancha a bandeira que muitos defendem com sinceridade. O Brasil precisa de conservadores de caráter — não de oportunistas de discurso.
Ser conservador é, antes de tudo, ser coerente. Não basta dizer que defende valores cristãos — é preciso vivê-los. Não basta postar versículos bíblicos — é preciso ter temor de Deus. Não basta falar em família — é preciso ser um exemplo para a sua.
Que nossa geração aprenda a diferenciar conservadores de ocasião e homens e mulheres que têm coluna vertebral, integridade e verdade no coração.
A direita pode continuar defendendo “Deus, Pátria, Família e Liberdade”… Mas que fique claro: não é só isso. É sobre verdade. É sobre caráter. É sobre justiça. Não sobre retórica.
- Valcenir Silva é teólogo, pastor e autor do livro Amor Redentor.