Larina Rosa
Já entendemos que para cada fase da vida temos tempo e experiências únicas. E que
cada momento merece ser aproveitado. Mas pelo visto ainda não compreendemos a
importância da infância na formação do ser humano.
“A infância é um terreno que pisamos a vida toda”, como disse a escritora Lya Luft, ela
que nos molda como indivíduos e nos acompanha pelo resto das nossas vidas. Por isso,
quando uma criança é forçada a agir como um adulto elas estão perdendo a chance de
viver a fase mais importante que é essencial para o desenvolvimento emocional, social
e cognitivo.
Com o incentivo da mídia, o acesso a internet e as redes sociais cada vez mais cedo,
crianças estão sendo expostas a conteúdos de adultização infantil em busca de
reconhecimento. Lamentavelmente esses comportamentos “mais maduros” estão se
tornando cada vez mais comuns no nosso dia a dia.
Um dos fatores que contribuem para a adultização precoce são os pais que querem os
filhos mais preparados para o mercado de trabalho e exigem notas altas, com
atividades extracurriculares que deixam os filhos com uma agenda lotada. Também
existe o desejo de consumir produtos voltados para adultos como maquiagem e
roupas da moda que alimentam comportamentos não indicados para sua faixa etária.
Em busca dessa imagem adulta elas assistem influenciadores e imitam
comportamentos adultos por aceitação e reconhecimento, o que desencadeia a
atenção de pedófilos.
Recentemente acompanhamos o influenciador Felca ampliando o debate de segurança
nas redes. Com um vídeo de milhões de visualizações, o influenciador denunciou
produtores de conteúdos que exploram crianças e adolescentes nas redes sociais. No
vídeo ele explica como funcionam os algoritmos que entrega conteúdos sexualizados
de crianças aos pedófilos.
O vídeo é difícil de assistir, mas é necessário para expor os perigos da internet com os
pequenos. Depois da publicação os envolvidos foram presos e o Senado aprovou o
projeto para proteger crianças em ambientes digitais. O projeto abriga que
fornecedores de produtos e tecnologia da informação adotem medidas para prevenir o
acesso de crianças a conteúdos de pornografia, bullying, incentivo ao suicídio e jogos
de azar. Uma vitória para quem quer ajudar crianças que estão sentindo que precisam
crescer mais rápido do que deveriam.
Temos que lembrar que criança precisa ser criança. Elas não precisam ter experiências
de adultos e quando essa aceleração acontece, atrapalha o desenvolvimento para
sempre. Ansiedade, estresse, baixa autoestima, dificuldades de socialização,
problemas comportamentais e desenvolvimento emocional prejudicado são alguns dos
fatores provocados pela adultização infantil que podem levar até o fim da infância.
Fase que deve ser aproveitada para brincar, explorar e se desenvolver de maneira
saudável, em um lugar onde elas se sintam acolhidas, aceitas, reconhecidas e
principalmente amadas, em um mundo onde ser adulto é difícil.
A autora é jornalista
