Ano novo e os velhos costumes machistas

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LARINA ROSA

Janeiro chegou e ainda estamos na pandemia, tem mais uma variante rondando e mais o risco com a dupla infecção de gripe e Covid. Ainda assim as festas do último ano foram um pouco diferentes, já que dessa vez, por causa das vacinas, voltamos a nos encontrar com os parentes, família e amigos para celebrar a vida com um pouco mais de qualidade que no ano anterior.

As comemorações do último final do ano trouxeram a sensação de sobrevivência, agradecimento e esperança de dias melhores para 2022.

Com elas também vieram os velhos costumes de organização dos preparativos para comemorar o Natal e a chegada do ano novo, período em que as mulheres trabalham muito e reforçam a carga mental do ano inteiro.

Nas últimas semanas recebi dois vídeos de vários homens chegam em uma festa de confraternização e descobrem que eles estão vestidos com camisas iguais. A princípio achei engraçado pela maneira que todos levaram na esportiva a surpresa combinada. Mas ao mesmo tempo me fez pensar que todos eles estavam vestidos por causa delas. Explico: Além de ir para a cozinha, limpar, decorar, elas fazem com que a festa funcione, cuidam e vestem as crianças e eles.

Todo esse trabalho é considerado normal na nossa cultura, já que elas cuidam de tudo, das crianças, do bem-estar dos homens e a festa é sempre ótima. Acontece que ninguém fala o quanto é pesado esse trabalho, como é desgastante esse papel. E me pergunto quantos novos anos ainda vamos ter nessas comemorações onde eles são servidos e no máximo ficam responsáveis pelo churrasco.

Escolher uma roupa pode ser tarefa simples, mas ser sempre o responsável pela vestimenta de uma família inteira é um trabalho árduo. Assim como cozinhar, lavar e fazer a casa funcionar. É muito cômodo para eles não se preocuparem com essas tarefas.

A falta de consciência deles em dividir as tarefas vem perpetuando uma carga muito pesada para elas carregarem. Entra ano e sai ano elas seguem estressadas em jornadas duplas, se sentindo sozinhas em um mundo onde poucos se esforçam para mudar.

O ano mudou, mas os velhos costumes machistas de não dividir as tarefas continuam os mesmos. Desconstruir comportamentos que dificultam a vida delas e só facilitam a vida deles é a única opção, mas diminuir a carga pesada delas.

A pandemia sempre será lembrada por um período de luto sombrio e difícil para todos. E por que é que não nos unimos para diminuir a carga dessas mulheres que tanto trabalham? A esperança de dias melhores existe, só resta torcer e agir para diminuir a carga mental delas e não deixar acreditar na mudança de consciência deles. Para 2022 desejo que eles entendam as tarefas de ser adulto e comecem escolhendo a própria roupa.

A autora é jornalista

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